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O poder de escutar: uma pausa no ruído para reconectar com o outro – e com nós mesmos

Num mundo que nos exige velocidade e performance, parar para escutar pode parecer um luxo. Mas, na verdade, é uma necessidade. Ouvir com presença, com empatia, é um caminho silencioso — mas profundo — para a construção de relações mais saudáveis e uma vida mais leve. Escutar de verdade não é apenas um gesto de atenção ao outro, é um gesto de amor consigo mesmo. Porque quando a gente escuta com o coração, também se transforma.

Estamos vivendo um tempo em que todos falam ao mesmo tempo. Redes sociais, grupos de WhatsApp, vídeos, áudios, stories… o mundo virou um grande coral de vozes simultâneas. Mas e o silêncio? E a escuta? Onde foi parar a nossa capacidade de apenas ouvir?

Essa reflexão nos leva a um conceito cada vez mais essencial: a escuta ativa. Muito mais do que ouvir com os ouvidos, ela convida a um mergulho sensível no universo do outro. É prestar atenção nos gestos, nos olhares, no tom de voz, nas pausas que dizem tanto quanto as palavras. É parar de pensar na próxima resposta e, simplesmente, estar ali.

“As pessoas estão falando muito e se ouvindo pouco,” diz a psicóloga Ana Flora Bestetti

A escuta ativa é, antes de tudo, um exercício de empatia. Um convite a desacelerar e a se fazer presente.

“Muitas vezes, quando alguém começa a falar de uma dor, logo interrompemos para contar algo nosso. Isso não é escutar. É transformar a dor do outro em palco para a nossa”, afirma Ana Flora.

Vivemos uma era de urgência, onde até as emoções precisam ser rápidas. Mas emoções não têm relógio. E para que elas se manifestem de forma saudável, é preciso espaço, tempo e um ouvido generoso do outro lado. Quando escutamos verdadeiramente alguém, damos a essa pessoa a chance de se sentir validada, acolhida, compreendida. E isso é poderoso.

A escuta ativa não é uma habilidade exclusiva de terapeutas. É algo que todos podemos — e devemos — cultivar no dia a dia: com amigos, parceiros, filhos, colegas de trabalho. Porque escutar com atenção transforma a qualidade das nossas conexões. A escuta é o antídoto para a solidão que cresce mesmo num mundo hiperconectado.

“Escutar o outro também nos torna pessoas melhores”, completa a psicóloga.

A boa escuta começa com um interesse genuíno. Envolve estar ali, inteiro. Sem julgar, sem apressar, sem querer consertar a dor do outro. Apenas oferecendo presença e respeito. E sabe o que é bonito nisso tudo? Ao escutar, também aprendemos mais sobre nós. A escuta ativa é um espelho: ela nos mostra onde estamos, como reagimos, o que sentimos diante das histórias dos outros.

A pandemia, as crises climáticas, as perdas recentes — tudo isso fragilizou as estruturas emocionais de muita gente. E o que mais se ouve por aí é que estamos cansados, ansiosos, inseguros. Talvez estejamos mesmo. Mas também estamos carentes de escuta. De alguém que não nos interrompa, que não nos compare, que não queira ganhar no jogo das dores. Apenas alguém que escute.

Como começar? Reduza o ritmo. Faça perguntas sinceras. Escute com o corpo, com o olhar, com o coração. Se alguém te contar algo, resista à vontade de emendar com a sua história. Permita que o outro ocupe o espaço do relato, da emoção, da partilha. Silencie o ego por alguns minutos. É um gesto de humildade — e de humanidade.

Ouvir é um ato de cuidado. É um presente raro e precioso. Num tempo de tantas vozes, quem escuta se torna abrigo. E talvez seja disso que estejamos mais precisando agora: de abrigo humano.

Siga no instagram:  @anaflora.bestetti

Reportagem: @adrianocescani

Foto: Duca Cescani 

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