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Quando o amor muda de forma

Nada mexe mais com o nosso bem-estar do que aquilo que toca o coração. E poucos momentos na vida exigem tanto cuidado e gentileza consigo mesmo quanto o fim de um relacionamento. É como se um pedaço da gente precisasse se reorganizar por dentro. A boa notícia? Essa reorganização, ainda que dolorida, pode nos conduzir para um caminho mais leve, autêntico e cheio de possibilidades. Porque recomeçar também é um ato de amor.

Terminar uma relação — seja ela um casamento longo ou um namoro recente — é como encerrar um capítulo importante da nossa história. Dá medo, sim. Dói, bastante. Mas também é uma oportunidade de reescrevermos a nossa vida com mais verdade, respeitando quem somos agora.

A psicóloga Ilda Nocchi explica que a dor da separação é uma das mais intensas que podemos sentir — e isso não é força de expressão. “Estudos mostram que a dor de uma separação ativa no cérebro a mesma área de uma queimadura. É como se doesse a pele, mesmo sem ninguém encostar.”

“A separação mexe com uma parte muito primitiva da gente. É como aquela primeira grande separação da vida, que é sair do útero da nossa mãe. A gente perde aquele quentinho, aquela sensação de proteção.”
— Ilda Nocchi, psicóloga

Quando um relacionamento chega ao fim, não perdemos apenas o outro. Perdemos também uma identidade: aquela que formamos ao longo do tempo como casal. “Dói porque é a perda da referência que a gente construiu. Aqueles dois que existiam juntos deixam de existir. E isso exige um tempo de adaptação, de luto”, diz Ilda.

Mas como saber que o amor já não mora mais ali? Segundo a psicóloga, o corpo muitas vezes dá sinais antes mesmo da mente entender. Pode ser um cansaço que não passa, uma irritação constante ou simplesmente a ausência de afeto — aquela sensação de que não há mais vontade de dividir a vida.

“Quando ainda é tempo de tentar, existem sinais afetivos, existe o desejo de estar junto. Mas quando isso desaparece, quando não há mais afeto, é o fim.”
— Ilda Nocchi

É comum, nesse momento, surgir um sentimento de fracasso. A ideia de que não conseguimos fazer dar certo, de que falhamos em algo que era importante. Mas Ilda convida a olhar essa dor com mais compaixão. “Esse sentimento existe, e ele é humano. Mas ele não precisa permanecer. Porque aquele projeto deu certo até onde precisava dar. A relação teve valor, teve sentido — mesmo que tenha chegado ao fim.”

E é aí que começa o caminho do recomeço.

Separar não é sinônimo de derrota. É sinal de mudança, de amadurecimento, de uma vida que se transforma com o tempo. É entender que tudo tem seu ciclo — e que tudo bem se um ciclo terminar. O mais importante é o que fazemos a partir disso. Como cuidamos de nós mesmos. Como decidimos seguir em frente.

“Chega um momento em que estamos sozinhos no mundo. E é aí que a gente aprende a se cuidar, a se escutar, a se conduzir. É onde mora a nossa força.”
— Ilda Nocchi

A boa notícia é que o fim de uma história pode ser o início de outra, ainda mais bonita. Às vezes, é nesse silêncio que a vida ganha novos tons. Nas pequenas redescobertas: um café sozinho com gosto de liberdade, uma caminhada sem pressa, uma tarde de riso com os amigos, uma noite tranquila só com a própria companhia.

E, com o tempo, o que parecia cinza volta a ganhar cor.

Separar dói, sim. Mas pode ser também libertador. Pode ser o primeiro passo para uma vida mais leve, mais verdadeira, mais conectada com quem somos de verdade. Porque não é o fim — é apenas uma nova forma de viver.

E talvez, no fundo, o que a gente mais precise aprender com os términos é que nenhum amor vale mais do que o amor-próprio. E que a gente sempre pode recomeçar. Com calma, com coragem e com carinho.

Siga no instagram: @ildanocchi_psico

Reportagem: @adrianocescani

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