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Quando a vida pisca o sinal amarelo

Por @adrianocescani

Tem dias em que a vida não grita. Ela apenas pisca.

Um alerta silencioso, discreto, quase tímido — como aquele sinal amarelo no trânsito. Não é uma sirene estridente nem uma placa de “pare agora!”. É só um aviso: atenção, algo aí dentro (ou ao redor) precisa mudar.

Às vezes, esse amarelo aparece no espelho, quando a gente nota um cansaço que não é só físico. Um suspiro mais fundo no meio do dia, um desânimo que chega antes mesmo do café. Outras vezes, ele aparece num silêncio diferente em casa, numa conversa que não flui, num carinho que a gente deixou pra depois. Pode ser também aquele e-mail que você abre com o estômago apertado ou uma reunião que já começa tirando sua paz.

É o sinal amarelo da vida. Um meio termo entre o conforto do que já conhecemos e o incômodo do que não está mais funcionando.

E o bonito é que o amarelo não é o fim. Ele é justamente o convite para não deixar chegar no vermelho.

É a vida dizendo: “Ei, dá pra recalcular a rota com calma. Ainda dá tempo.”

Nem tudo precisa ser feito de uma vez, aliás, quase nada deve ser. Mudar a rotina, cuidar do corpo, regar os afetos, repensar o trabalho — tudo pode começar com pequenas atitudes. A escolha de uma fruta no lugar de um ultraprocessado. Um “bom dia” dito com mais presença. Dez minutos a mais de sono. Ou dez a menos de celular. Um “vamos conversar?” antes do silêncio se transformar em muro.

O sinal amarelo é gentil. Ele não julga. Ele apenas indica: daqui pra frente, vai com mais atenção.

E olha que curioso: às vezes, andar pra trás é o jeito mais bonito de avançar. Voltar pro verde da vida pode ser tão simples quanto retomar um hábito esquecido, uma alegria deixada de lado, um desejo engavetado. Pode ser reencontrar o que fazia sentido. Pode ser desacelerar.

Na prática, é como se a vida dissesse: “Você não precisa ser extraordinário. Só precisa estar presente. Só precisa se escutar.” E isso, a gente pode fazer aos pouquinhos, todos os dias.

Então, se você tem visto alguns sinais amarelos por aí, acolha. Respire. Não precisa buzinar nem acelerar. Só se escute. Escolha melhor. Cuide de você. O verde volta, sempre volta, pra quem decide seguir com mais verdade.

Foto: Duca Cescani

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